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terça-feira, 28 de junho de 2011

OBRA:    “ São Bernardo"


Autor:     Graciliano Ramos

Origem da literatura:    Brasileira

Editora, Data da publicação, Páginas:    Ed. Record, 1996,  191 páginas.

Descrição da estrutura:   Obra escrita em 36 capítulos num total de 191 páginas. 



Personagens:   Paulo Honório, Madalena ( professora e esposa ), Azevedo Gondim ( diretor do Cruzeiro ), Padre Silvestre, Cassimiro Lopes ( capanga ), Luis Padilha ( ex-dono de São Bernardo e professor da escola ), Dr. Nogueira ( advogado ), Major Ribeiro ( guarda-livros ), Dona Glória ( tia e mãe de Madalena ), Velha Margarida,  Maria das Dores, Marciano e Rosa ( empregados ), Dr. Magalhães ( Juiz de Direito ), Mendonça e Alexandrina ( donos da Fazenda Bonsucesso ), Tubarão ( cão de guarda ).


Obra:     Graciliano Ramos é autor de duas obras-primas.
Aqueles que partem do nordeste vitimados pela tragédia da seca impiedosa, servem de material para “ Vidas Secas “ e aqueles que ficam e se confundem com a rudeza da seca, servem de material para “ São Bernardo “.
São Bernardo mostra a trajetória de Paulo Honório, um homem muito simples ( pouco conformado ), que demonstrava uma ambição comparável à impiedade da seca que assola o árido sertão alagoano. Queria vencer na vida, naquele ambiente, a qualquer custo.
Essa determinação de Paulo Honório, que num primeiro momento é louvável, passa a ser o seu algoz sem que ele percebesse.
Pode-se notar uma transição amarga que se inicia na determinação e obstinação de Honório, passando por uma ambição sem limites, que termina em ganância solitária.
A saga de Paulo Honório parte de uma infância miserável, passa por um período de três anos, nove meses e quinze dias de cadeia, por ter cometido homicídio ( por nenhuma coisa ).
A partir daí começa a ser construído um homem rude e egoísta, de caráter maciço e violento, tendo um objetivo que beira à obsessão: apoderar-se da Fazenda São Bernardo.
Age como um rolo compressor e consegue, por fim, ter as tão sonhadas terras e transforma-se num grande fazendeiro do sertão alagoano.
Percebe, assim, que tudo pode, que as dificuldades cedem sob sua força e o mundo se curva às suas vontades. Desaprendeu o que é não poder.
Seus métodos tornam-se cada vez mais desumanos; trata os seus subordinados como coisas; usa meios perversos de dizer, fazer e conseguir o que quer; conhece bem todos os meios para isso e não pensa sobre eles: aplica-os!
Chega, então, o momento de adquirir outra propriedade, que lhe proporcionasse um herdeiro, não um filho, apenas um herdeiro e para isso precisava ter uma mulher.
Decidiu ter Madalena. Moça distinta, educada, sensível, com boa formação, logo passou a ter uma ótica humanitária em relação às necessidades básicas dos empregados e, para Paulo Honório, o pior de tudo é que ela era capaz de amar e ter amizades. Considerava isso tudo uma bobagem!
Em sua escalada de poder, poder vazio, na vida rudimentar de Paulo Honório, não havia espaço para amor ou amizade, por isso tenta a qualquer custo anular Madalena através do seu autoritarismo.
Um triste episódio faz com que Paulo Honório, pela primeira vez, perca o comando.

Madalena morre.

A partir daí, um a um vai deixando São Bernardo pelos mais diversos motivos. O fato é que não havia motivo que sensibilizasse as pessoas a ficarem. Nenhuma sombra de carinho ou consideração restava.
O tempo passa a ser o algoz de Honório e faz com que ele, imerso numa solidão implacável, não consiga fugir de si mesmo. Ele é o que lhe resta. Queira ou não.
O ruidoso silêncio trazido pela solidão esvazia de vez a barbárie da ganância e do egoísmo, marca registrada do fazendeiro.   


Opinião:  Esse romance é típico do modernismo regionalista que tem como maior expoente Graciliano Ramos.
Não é difícil identificar características marcantes, como a objetividade das descrições, o jeito prático e pouco descritivo para desnudar o personagem.
Paulo Honório é um retrato bem definido do ambiente em que se propõe a viver e prosperar.            Tosco, rude, amargo, agreste, ingrato, desrespeitoso. Um selvagem.
Tomado pela volúpia de crescer e prosperar a qualquer custo. Atropela qualquer um.
Lança mão até de força física para ser respeitado.
Parece fazer questão de esquecer de onde veio e faz seu sucesso brotar às custas de pessoas que tiveram origem semelhante à sua. Isso sua memória omite.  Memória seletiva.
Um exemplo de como não devemos ser.
Ambição desmedida, ingratidão, oportunismo, valoriza a posse, o poder, o status perante um grupo de ninguém. Não preza o simples. Não preza o fraterno. Não preza o solidário.
Não preza a amizade.


Citações de “  São Bernardo  “:

“ ... e o pequeno que ali está chorando necessita quem o encaminhe e lhe ensine as regras de bem viver ... “

“ ... como havia agora liberdade excessiva, a autoridade dele foi minguando, até desaparecer ... “

“ ... essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se; na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra , bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se ... “

“ ...  --- O senhor acredita nisso?  Perguntou João Nogueira.
        --- Em quê?
       --- Eleições, deputados, senadores ... “



O AUTOR:   GRACILIANO RAMOS





Data da resenha:   28 de Junho de 2011.   

Autor da resenha:     Márcio A. S. Ferraz

Local:     Alameda das Paineiras, 60   -   Itapevi – S.P

segunda-feira, 27 de junho de 2011

OBRA: :    “ O Presidente Negro “


Autor:  Monteiro Lobato

Origem da literatura:   Brasileira   

Editora, Data da publicação, Páginas:   Ed. Globo, 2008,  202 páginas.  

Descrição da estrutura:    Obra dividida em 25 capítulos, num total de 202 páginas.




Personagens:   Ayrton Lobo ( funcionário da firma Sá, Pato & Cia ), Prof. Benson, o sábio,  Miss Jane ( filha de Benson ), Kerlog ( ocandidato branco ),  Evelyn Astor ( a feminista ) e Jim Roy ( o candidato negro ).   

Obra:    Uma fábula futurista. Livro escrito em 1926, já no período do Modernismo, ainda num Brasil agrário. Os personagens do livro são mantidos na década de 1920 e através de um aparelho chamado porviroscópio, inventado pelo sábio e cientista Prof. Benson, conseguem acompanhar através de uma tela o que ocorrerá em certa data e local selecionados pelo usuário, havendo previsão de desvendar o futuro até o ano de 3.527.
Quem visualiza e descreve as ações futuras é a filha de Benson, Miss Jane.
Ainda em 1926, Monteiro Lobato, através dessa obra, prevê alguns aspectos da tecnologia, como as ondas de rádio, a modernidade do sistema de votação com eleições rápidas e votos enviados à distância, jornais diários e noticiário eletrônico em tempo real e o trabalho à distância, onde o homem não teria necessidade de se deslocar, realizando suas tarefas diretamente em casa. Essas seriam previsões viáveis, comprovadas pelo tempo.
Outras eram fantasiosas, como o desdobramento do homem, ou seja, seria possível ouvir coisas distintas com cada ouvido e enxergar outras com cada olho, simultaneamente.
Lobato também aborda aspectos raciais como a cisão da América entre brancos e negros já evidenciando as mazelas que a escravidão causaria na cultura americana.
A referência do imaginário de futuro mostra a extrema criatividade de Lobato e porque não um senso crítico que se mistura com posicionamentos pouco aceitáveis, ainda hoje.
Sugeria que tanto os crimes quanto a pobreza tinham origem racial e por isso se propunha a aplicação da eugenia, a purificação da raça como solução.
Dessa forma, haveria um controle rigoroso imposto pelo Estado, através do planejamento familiar para que a pureza da raça permanecesse incólume e também, seria necessária a eliminação de prostitutas, pervertidos sexuais e deficientes que deveriam ser eliminados já no nascimento para que não contaminassem a espécie.
O principal ponto desse romance é a questão da dinâmica social norte-americana, que é exposta através de um processo de disputa eleitoral para a presidência da República a ser disputada no ano de 2228, entre um candidato conservador branco, uma mulher e um candidato negro. Semelhanças para com 2008. McCain, Hilary e Obama !!!
Ao final desse processo vence o candidato negro Jim Roy. Vence mas não assume seu lugar.
No dia da posse, é encontrado morto em seu gabinete.
Por fim, Ayrton Lobo consegue conquistar Miss Jane. Essa intenção passa velada durante todo o desenrolar do romance e se manifesta de forma positiva no último capítulo.

Opinião:  Além de ser muito interessante notar como, em 1926, Lobato pode vislumbrar diversas conquistas e modificações que de fato hoje nos cercam, principalmente no que diz respeito à questão tecnológica. De fato é muito curioso observar sua capacidade singular de antever o futuro.
Talvez a maior importância, quando se reflete acerca do conteúdo da obra, seja a abordagem da questão racial e sexual.
Talvez Lobato tenha tentado nos alertar de como temos sido, ainda hoje, primitivos ao lidar com essas questões, ou melhor, ao não sabermos lidar com questões tão menores, como ater-se a qual raça ou sexo é melhor, qual deve prevalecer em cada área específica da sociedade, qual raça deve ser privilegiada por quotas em universidades e toda ordem de divisão e compensação social sempre se baseando no prejudicado pela condição da raça ou sexo.
Nesses casos não há avanço cultural ou tecnológico que faça com que o homem, tanto  de 1926 quanto de 2011, deixe se apegar a meras trivialidades.

Citações de “ O Presidente Negro “:

“ ... o número de divórcios, ao contrário, diminuiu como nunca se esperou. E diminuiu
em virtude da única imposição que a lei fazia a esses contratos: as férias conjugais
obrigatórias ... “

“ ... muito cedo chegou o americano à conclusão de que os males do mundo vinham dos
três pesos mortos que sobrecarregavam a sociedade – o vadio, o doente e o pobre ... “



                                           O Autor:  Monteiro Lobato

Data da resenha:   27 de Junho de 2011    

Autor da resenha:     Márcio A. S. Ferraz

Local:     Alameda das Paineiras, 60   -   Itapevi – S.P

domingo, 26 de junho de 2011

OBRA:    “ Triste Fim de Policarpo Quaresma “


Autor:  Lima Barreto

Origem da literatura:   Brasileira ( Pré- Modernismo ).

Editora, Data da publicação, Páginas:  Ed. MEDIAfashion,  2008,  255 páginas.   

Descrição da estrutura:  Obra dividida em 3 partes, cada parte com 5 capítulos, num total de 255 páginas.


Personagens:  Major Policarpo Quaresma, Adelaide ( irmã de Quaresma ), Ricardo Coração dos Outros ( seresteiro ), Olga ( afilhada de Quaresma ), Gal.Albernaz,Genelício, Almirante Caldas, Cel. Bustamante, Ismênia ( filha do Gal. Albernaz ), Presidente Marechal Floriano Peixoto. 

Obra:  Policarpo Quaresma é um funcionário público, subsecretário do Arsenal de Guerra, morador do bairro de São Januário, cidade do Rio de Janeiro, que leva a vida de forma tão burocrática quanto o exercício do seu trabalho.
Indivíduo ultra-nacionalista que defende toda e qualquer causa nacional de forma exuberante e apaixonada.
Esse livro tem como pano de fundo uma visão inconformada de Lima Barreto com a sociedade suburbana carioca, que é tida como presunçosa e parasitária, além de expor o dinamismo da situação política do Brasil, mais especificamente a recém proclamada República, com toda sua instabilidade de primeiros tempos.
Nitidamente consegue-se identificar o livro em três partes características.
A primeira parte identifica o burocrata exemplar, estudioso das coisas do Brasil, do folclore, de geografia local, cultura brasileira, enfim, considerava que o Brasil poderia tornar-se melhor através do conhecimento profundo de suas verdadeiras raízes, de suas verdadeiras riquezas.
Nessa fase comete alguns excessos como, por exemplo, propor ao Congresso Nacional que estabeleça o tupi-guarani como nosso idioma oficial. Fato esse que o expôs de talforma de todos passam a ridicularizá-lo. O auge desses deslumbres acontece quando envia, sem intenção, um ofício a um superior do Arsenal de Guerra, escrito em tupi- guarani.
O resultado desse deslize foi a internação em uma clínica psiquiátrica e mais adiante sua aposentadoria por invalidez.
Esses eventos levam ao início da segunda parte do livro, surgindo um Quaresma desiludido e inconformado com as incompreensões tanto em sua própria casa quanto na repartição. Resolve morar no campo e dedicar-se ao conhecimento da agricultura e das questões agrárias a serem remodeladas no Brasil de início de século. Compra um sítio em Curuzu, interior do Rio de Janeiro, chamado Sossego.
Através dos estudos, empenha-se na reforma da agricultura brasileira e no combate às vorazes saúvas. No entanto, mais uma vez, mantém-se distante da realidade e pouco eficaz em seus legítimos propósitos, sendo derrotado pelo clientelismo e fraudes políticas repetidas e pelo exército de saúvas que atacavam seus plantios de milho e feijão.
A obra culmina com a terceira parte, onde há uma exacerbação à sátira política.
Quaresma, ainda no seu sítio Sossego, fica sabendo da revolta da Marinha contra o presidente Marechal Floriano Peixoto, a Revolta da Armada e decide deixar a batalha rural e alista-se para o combate em defesa de Floriano.
O tempo passa e após quatro meses de batalha, Quaresma passa a questionar se valeria a pena abandonar a tranquilidade do lar e arriscar-se por uma causa duvidosa e por um governante, que cada vez mais se mostrava pouco afeito às legítimas causas em defesa da transparência e valorização do Brasil puramente nacional.
Ao término da revolta, é designado com carcereiro na ilha das Enxadas, onde presencia uma ação injusta e arbitrária por parte de um membro do governo, que escolhe sem critérios indivíduos para serem executados.
Policarpo, indignado, escreve uma carta a Floriano, descrevendo e denunciando a atrocidade que havia presenciado, por um membro do seu governo.
O resultado foi trágico. Quaresma foi interpretado como um traidor e levado à ilha das Cobras, sendo condenado à morte.
Esse, o triste fim do Major Quaresma.


Opinião:  A obra, inicialmente, aborda o nacionalismo que talvez fosse necessárioa cada indivíduo para que houvesse um alicerce de transformação consistente na já deformada sociedade brasileira.
Consegue-se perceber a força que os interesses e propósitos alheios ao bem-estar geral tem e como é difícil se contrapor a essa rotina costumeira, vista com muita clareza na sociedade de hoje, início de século novo.
O idealismo e a atuação impositiva que se confronta com interesses contrários pode gerar conseqüências pouco agradáveis. Difícil lutar, por mais digna que seja a causa,contra o poder público, contra o poder da arbitrariedade, contra o poder militar, contra o interesse e desvio de dignidade gerado pela força do dinheiro.
A analogia de Quaresma com Dom Quixote é sim pertinente.
O que comove é o despertar de Quaresma.
Foi, sua vida toda, um visionário. No momento em que se vê condenado à morte por ter se dedicado à pátria e ter se dedicado à correção de comportamento, busca qual o saldo prático de sua vida.
Surgem conflitos esmagadores. Vida sem conteúdo, sem produção efetiva, sem construção, sem partilha, sem doação a outra pessoa ou a qualquer outra causa nobre que gerasse resultado.
Policarpo chega à beira da morte com uma vida, em termos de resultados práticos, vazia e não deixando um legado a ser seguido.
Por isso, um triste fim.

Citações de “ Triste Fim de Policarpo Quaresma “:

“ ... não é só a morte que nivela: a loucura, o crime e a moléstia passam também a sua rasoura pelas distinções que inventamos ... “
“ ... a morte tem a virtude de ser brusca, de chocar, mas não corroer, como essas moléstias duradouras nas pessoas amadas; passado que é o choque, vai ficando em nós uma suave recordação de ente querido, uma boa fisionomia sempre presente aos nossos olhos ... “



  O Autor:  Lima Barreto



Data da resenha:     26 de Junho de 2011  

Autor da resenha:     Márcio A. S. Ferraz

Local:     Alameda das Paineiras, 60   -   Itapevi – S.P